Houve muitos dias em minha vida que tive de decidir entre ir numa balada e guardar o dinheiro para me alimentar durante todo um mês. Houve muitos dias em minha vida que eu tive que decidir entre ir a um cinema ou guardar dinheiro para pagar o aluguel. Houve muitos dias em minha vida que eu tive que decidir entre comprar uma cerveja ou pagar por uma apostila na véspera de uma prova de faculdade.
Apesar das dificuldades agradeço diariamente por esses dias, cujas escolhas me ensinaram uma das mais preciosas lições – A diferença entre consumir e adquirir. Qual é a diferença entre consumir e adquirir? E quais são os impactos de não saber essa diferença? Por que não temos hoje um “ADQUIRISMO” DESENFREADO do que deve ser adquirido?
Adoro baladas, cinemas, bebidas, churrasco, festas, roupas, tênis, eletrônicos, viagens, amor, sexo e rock’n roll…. Muito bom mesmo!!! E quem não gosta? E aos que gostam de drogas… um barato! Impossível controlar a parada, o vício, a tentação, o desejo forte de consumir. Temos cartão de crédito para quê, certo? Vamos consumir galera… Essa é a ordem atual.
Quando pergunto quem comprou e leu algum livro esse ano a resposta é sempre a mesma. Quando pergunto quem está investindo em algum curso ou formação profissional a resposta é sempre a mesma. Quando levanto a mão em meus treinamentos e pergunto aos vendedores e profissionais de vendas quem tem um tablet ou smarthpone para usá-los como ferramenta de trabalho a resposta é sempre a mesma. Qual resposta? Não tenho dinheiro, professor. Meu cartão de crédito está estourado! Tenho muitas contas para pagar.
Em resumo, o “individuado” (indivíduo+endividado) deixa de ser promovido ou vender mais, porque não adquire mais competência. Não adquire mais competência porque não tem dinheiro para fazê-lo, e não tem dinheiro porque não ganha mais do que consome. Mas não ganha mais porque não é promovido ou não vende mais. Aí voltamos à estaca zero. Só que no meio desse ciclo vicioso da inércia existe um ralo ou abismo invisível do consumo desenfreado.
Talvez meus amigos mais próximos estejam pensando por que estou escrevendo esse artigo, se afinal hoje sou um grande consumista. Mas não vejam minhas quedas antes de saberem quanto já bebi. Calma! Sou, sim, consumista, mas sou muito mais “adquirista”. Vejo cada dia mais os jovens torrarem seu primeiro, segundo, terceiro… décimo terceiro salário, ou mesada dos pais, em coisas fúteis, produtos supérfluos e serviços que não os farão agregar mais ao amanhã.
Vejo uma turma grande de jovens que cresceu vendo seus pais colocarem um cartão retangular numa máquina para logo depois ela cuspir cédulas e cédulas. Temos uma geração inteira que foi criada consumindo, estourando o cartão, aprendendo na televisão a consumir toda sorte de produtos até se endividarem e não terem mais dinheiro depois para adquirir ou sequer consumir o mínimo ou digno para viver.
Veja o total de gastos que você tem no final da semana: estacionamento, combustível, fast-food, cerveja, sorvete, alisamento e tintura de cabelo, cosméticos, roupas de marca, tênis e sapatos caros, cinemas, passeios, baladas, churrascos… No final, marque quanto dessa lista que você tem gastado tem um impacto significativo e positivo no seu trabalho? Quanto desse investimento tem um impacto duradouro em sua carreira? Quanto do total de custos são gastos reais (será consumido no presente) e quanto é um investimento real (será colhido no futuro)?
Claro que os prazeres da vida são maravilhosos e viciantes… Repito. Sou consumista hoje porque aprendi a ser “adquirista” muito cedo em minha vida. A grande sacada é saber quanto do que ganho vai ser reinvestido hoje para que eu possa ter uma fartura amanhã. O segredo é saber o equilíbrio certo entre consumir e adquirir. Se você gasta 300,00 Reais em baladinhas toda semana, e decide hoje economizar 200,00 Reais por semana, conseguirá pagar um curso superior no final do mês. Quando você torra seu dinheiro em lojas de marcas e não nos livros ou faculdades de marcas, está torrando e consumindo suas chances ou potencial de crescimento profissional.
Enfim, temos que aprender a adquirir o que deve ser adquirido na vida, controlar nossos vícios e desejos, e não sermos sequestrados pelo consumo desenfreado. Por que não adquirir uma vida em vez de consumi-la? Adquira competência hoje e terá mais dinheiro amanhã para consumir. Perder hoje para ganhar muito mais amanhã. O segredo é adquirir para nunca deixar de consumir. E não consumir para mais tarde deixar de adquirir. Seja mais do que consumista. Seja um “adquirista” desenfreado!
Adquiriu?
03/09/2013