Tem dia que você acorda de bom humor, abre a janela e se depara com um dia ensolarado, recebe boas notícias já no café da manhã, o trânsito está maravilhoso, todos os sinais de trânsito ficam verde ao você se aproximar, seu chefe o elogia, você consegue bater todas as suas metas logo pela manhã… Enfim, um dia maravilhoso.
Quando se aproxima a hora do almoço, você ouve uma música que te faz lembrar uma passagem triste de sua vida, mas não deixa o ânimo cair e pensa em outra coisa. Algum tempo depois, durante uma reunião, alguém fuma do seu lado e a fumaça te faz ficar louco para fumar ou louco para correr dali de raiva de quem está fumando. Aquele que não resiste ao vício diz: “Apenas um cigarrinho… não faz mal”.
Na hora do almoço, você já pode estar no décimo cigarro ou sentindo um cheiro irresistível de comida gordurosa no ar. Rapidamente, você se lembra de seu médico dizendo que seu colesterol está nas nuvens, tenta colocar só comida saudável, mas não resiste e lá se vai mais um dia de dieta. Enquanto come, assiste na TV algumas notícias terríveis que tiram seu humor e apetite. A comida já não tem mais o mesmo sabor… O dia já não é assim tão maravilhoso.
Ao retornar para a empresa, você encontra aquele colega chato e pessimista que mais odeia e como já está se sentindo mal, acaba se irritando ainda mais depois que ele abre a boca e critica suas ideias e projetos. Seu chefe começa a elogiar esse “Judas” e você se lembra da época em que seu professor lhe mandava injustamente falar com o diretor.
Agora, você está impaciente, chateado, frustrado e começa a se irritar com tudo e todos que passam por você. Ao saber que perdeu um grande contrato de seu mais importante cliente, você começa a ter todos os motivos para odiar seu dia. Chega a hora de voltar para casa. O trânsito está horrível, você xinga todo mundo e quer brigar com aqueles que fecham sua passagem. Sem falar nos malditos semáforos que estão todos vermelhos quando você se aproxima.
Por que seu dia maravilhoso se tornou tão rapidamente mais um de seus piores dias? A culpa seria da música, do cheiro do cigarro, do colega chato, do chefe ou da perda do contrato? Ou seria tudo ao mesmo tempo?
Continuamente nós experimentamos sensações através dos cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar. Ao processar as informações obtidas através desses sentidos, nosso cérebro acessa algumas gavetas em nossa memória e revela conteúdos que estão associados a algumas experiências passadas. Logo em seguida, surgem respostas ou sensações em seu corpo, influenciando seu estado interno.
Quando alguma resposta é disparada sem pensarmos ou sem termos qualquer controle sobre a reação imediata, chamamos esse gatilho de âncora. Por quê? Porque esses estímulos internos ou externos disparam respostas inconscientes que nos prendem ou nos ancoram em estados específicos. As âncoras podem ser visuais (dia ensolarado, notícias, semáforos), auditivos (música, voz chata), cinestésicos (cadeira confortável), olfativos (cheiro de cigarro, comida gordurosa) e gustativo (sabor do café, chocolate). As âncoras podem estimular uma ação ou podem mudar nosso estado emocional.
A palavra âncora (derivada do latim ancora e grego agkyra) significa proteção. Não é à toa que ela se apresenta em forma de flecha, preso à ponta de uma corda ou corrente, com a utilidade de manter a embarcação presa a algum lugar. A questão principal é saber para onde esta flecha aponta? Até onde vai essa corda? E em quais portos você anda ancorando seu barco?
A boa notícia é que da mesma forma que encontramos âncoras que promovem sensações e experiências negativas, também encontraremos aquelas que promovem um sentimento de bem-estar, emoção positiva e respostas mais saudáveis. O problema nunca está no problema em si (uma âncora que dispara uma sensação negativa ou aciona uma memória triste de sua vida), mas na sua reação ao problema. Afinal, o problema não está na âncora, mas onde você decide ancorar seu barco. E como melhorar essa reação às âncoras negativas?
Primeiramente, torne seus sentidos cada vez mais acurados para que você possa perceber com clareza e precisão algumas âncoras quando surgirem. Depois se torne curioso em relação à sua reposta instintiva. Quanto mais pensarmos sobre algo, menos instintiva será nossa reação. Busque outros recursos ou maneiras de reagir a tal âncora problemática. Depois pense de que maneira você poderia obter uma resposta positiva e harmoniosa, a fim de manter seu estado emocional equilibrado e favorável.
Do mesmo modo que uma âncora pode prender o avanço de um grande navio cargueiro, pode salvar um pequeno bote de uma tempestade. Você tem que saber a hora de lançar uma âncora e, principalmente, qual âncora lançar. A Programação Neurolinguística (PNL) nos ensina o mecanismo da ancoragem, ou seja, associar estados emocionais positivos (coragem, confiança, motivação, firmeza, equilíbrio e paz) a partes de nosso corpo, uma imagem, um cheiro, um toque ou um gosto. E quando você precisar desse estado num momento difícil saberá que ao acionar a âncora gerada terá acesso ao estado emocional desejado.
Enfim, você não pode se tornar refém de uma fumaça de cigarro, sabor de chocolate ou um amigo chato, e se deixar levar sem pensar e reagir de uma maneira que não deseja reagir. Segundo Joseph O´Connor, “A liberdade emocional vem de estar consciente das âncoras que se tem e de optar por responder apenas às que deseja”. Controle suas reações às âncoras negativas e cultive muitas âncoras positivas. Assim como fotos eternizam momentos, as âncoras eternizam as melhores emoções de sua vida se você aprender a lançá-las. Elas serão muitas vezes o único apoio e esperança de seu navio durante as tempestades.
Recolher âncoras! Içar Velas! Hora de Zarpar!
23/05/2012